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O que Sr. Darcy, Edward Cullen e um macarrão instantâneo senciente tem em comum? | Resenha sem spoiler do livro Três minutos de prazer
03 novembroApós ver essa história circular pela internet, resolvi resgatar essa leitura para a Thiemyy em uma live de foco na Twitch. Sempre gosto de fazer resgates de leituras cômicas para as meninas que acompanho na Twitch, e dessa vez prometi para a Thiemyy que leria o livro com ela. Foi assim que acabei com essa leitura em mãos. Pensar sobre uma história como essa, me faz questionar como essa narrativa se desenrola, como um miojo teria consciência e o quão criativa a autora consegue ser, e a leitura foi tomando esse tom curiosidade também. Eu não vou fazer como vi outros criadores de conteúdo e dizer que li para que outra pessoa não precise ler, e passar todos os spoilers. E também não vou entrar no mérito de discutir se essa leitura é ou não uma leitura válida, ou até mesmo considerada literatura. Acho que essa discussão por si só é digna de uma publicação voltada para o tema, abrindo espaço para a gente pensar sobre essa discussão. Por agora, ficamos com a resenha e alguns pensamentos que tive durante a leitura.
O livro divide a narração entre dois personagens, a Vivian que é uma veterinária em uma cidade pequena, e assim como muitas mulheres cis hétero, ela está no mapa da fome afetivo. Em busca de um amor, ela sai em encontros fracassados um após o outro. E do outro lado temos o miojo, ou melhor, o trigo, que ganha consciência em um campo após uma bruxa lançar um feitiço na região. Parte da magia afeta de forma colateral a sua existência e nos primeiros momentos ele narra o processo de virar um macarrão instantâneo até o momento que viu a Vivian e se apaixonou por ela. Enquanto Vivian vive seus dramas pessoais, o macarrão espontâneo fica como observador em um armário, refletindo sobre a Vivian e sua vida humana, desejando com muita intensidade ser tão humano quanto ela para suprir necessidades que vão além da nutrição que um miojo poderia dar. Fato é que o miojo no desenrolar da história ganha um formato humano, e se dedica a conquistar a Vivian apesar das circunstâncias. É importante frisar que ele não vira um humano tal qual a história da Princesa e o sapo, onde o príncipe deixa sua forma de anfíbio e assume novamente sua forma humana. O macarrão instantâneo segue sendo um macarrão, em vez de manter sua forma retangular, apenas assume uma forma antropomorfizada. Eu pedi ajuda ao Gemini AI, pois a minha criatividade e imaginação é limitada, e tive o seguinte resultado:
Eu achei um pouco chocante, mas bastante similar ao que é descrito no livro. E não gerei essa imagem apenas para traumatizar, mas visualizar esse personagem fora do campo da imaginação faz parte do processo de reflexão sobre esse livro. Tirando o estranhamento de uma história sobre um homem miojo, eu senti que o livro é desnecessariamente longo. Não existe uma construção de narrativa para além dos personagens e o desenvolvimento amoroso, não tem mistério, terror, suspense, a interação entre os dois personagens e suas questões afetivas são tudo que o leitor terá. São 339 páginas que envolvem repetições de sentimentos e situações que não contribuem necessariamente para a compreensão da história, deixando a leitura massante (e nem foi um trocadilho com massa). Outro ponto marcante nessa história, para além dos absurdos das cenas +18, é a quantidade de erros de revisão. A autora escreve bem, sabe construir uma história que não parece em nada com a estrutura mais amadora de uma fanfics, mas não me conquistou com a história do miojo.
Enquanto lia esse livro, uma coisa foi chamando a minha atenção: o ideal amoroso da Vivian. Em vários momentos a personagem descreve o que busca em uma relação e como seria um homem ideal. Acredite se quiser, os desejos dela não são tão absurdos quanto a própria existência de um homem miojo, é um querer que em sua centralidade é muito básico: alguém atencioso, cuidadoso e prestativo. Características básicas que a personagem não encontra em um homem humano, apenas um homem macarrão instantâneo foi capaz de preencher tais requisitos. E você pode estar se perguntando "tá, mas e o que o Sr. Darcy, o Edward Cullen e o homem miojo em tem comum?", a resposta é uma só: a decadência do amor romântico na ficção e a imagem do homem no romance cis hétero normativo. Se você tem costume de ler romances, já deve ter percebido como o gênero do autor impacta de forma diferente em uma história de romance. A presença majoritária de autoras trabalhando esse gênero, contribuiu para a criação de um imaginário de homem romântico, nos primórdios temos como exemplo o Sr. Darcy com seu cavalheirismo arrogante e o papel do homem como provedor, não apenas financeiramente, mas socialmente, politicamente e emocionalmente. Os homens como responsáveis pelo meio familiar começam a diluir a medida que o tempo passa, e em romances mais contemporâneos o homem segue nesse papel de cuidado e afeto, mas vai perdendo algo: a sua humanidade. Ao observar romances como, por exemplo, crepúsculo, temos o querido Edward Cullen, que fornece para Bella o afeto e o cuidado, mas já não tem características tão humanas, perdendo um pouco de sua construção ética e fisiológica, mas ainda assim é um personagem que fornece o ideal de amor e cuidado, logo, ainda é alvo de interesse romântico. Mais recentemente, tem surgido vários livros onde o homem assume características animalescas e inumanas, mas em essência não perde a capacidade de amar e cuidar, provendo para a personagem feminina da história um romance, e para o público um imaginário onde afeto talvez não vem mais de homens cis héteros. Um momento onde isso fica claro no livro Três minutos de prazer, é quando o Mac reflete que apesar de ter uma forma monstruosa, jamais agiria como um monstro com a Vivian, desrespeitando seus limites e agindo sem consentimento.
Enquanto lia esse livro, uma coisa foi chamando a minha atenção: o ideal amoroso da Vivian. Em vários momentos a personagem descreve o que busca em uma relação e como seria um homem ideal. Acredite se quiser, os desejos dela não são tão absurdos quanto a própria existência de um homem miojo, é um querer que em sua centralidade é muito básico: alguém atencioso, cuidadoso e prestativo. Características básicas que a personagem não encontra em um homem humano, apenas um homem macarrão instantâneo foi capaz de preencher tais requisitos. E você pode estar se perguntando "tá, mas e o que o Sr. Darcy, o Edward Cullen e o homem miojo em tem comum?", a resposta é uma só: a decadência do amor romântico na ficção e a imagem do homem no romance cis hétero normativo. Se você tem costume de ler romances, já deve ter percebido como o gênero do autor impacta de forma diferente em uma história de romance. A presença majoritária de autoras trabalhando esse gênero, contribuiu para a criação de um imaginário de homem romântico, nos primórdios temos como exemplo o Sr. Darcy com seu cavalheirismo arrogante e o papel do homem como provedor, não apenas financeiramente, mas socialmente, politicamente e emocionalmente. Os homens como responsáveis pelo meio familiar começam a diluir a medida que o tempo passa, e em romances mais contemporâneos o homem segue nesse papel de cuidado e afeto, mas vai perdendo algo: a sua humanidade. Ao observar romances como, por exemplo, crepúsculo, temos o querido Edward Cullen, que fornece para Bella o afeto e o cuidado, mas já não tem características tão humanas, perdendo um pouco de sua construção ética e fisiológica, mas ainda assim é um personagem que fornece o ideal de amor e cuidado, logo, ainda é alvo de interesse romântico. Mais recentemente, tem surgido vários livros onde o homem assume características animalescas e inumanas, mas em essência não perde a capacidade de amar e cuidar, provendo para a personagem feminina da história um romance, e para o público um imaginário onde afeto talvez não vem mais de homens cis héteros. Um momento onde isso fica claro no livro Três minutos de prazer, é quando o Mac reflete que apesar de ter uma forma monstruosa, jamais agiria como um monstro com a Vivian, desrespeitando seus limites e agindo sem consentimento.
Durante toda a leitura fiquei pensando que talvez nem seja sobre questionar se a história sobre o homem miojo é ou não literatura, mas para onde estamos caminhando em nossas relações afetivas, lembrando que uma parcela do que vemos na ficção é um reflexo meio triste da nossa realidade. Ver romance num vampiro centenário, gelado, que brilha no sol e matou várias pessoas ao longo das décadas, ou em um homem miojo que cheira a bacon. Mas, em contrapartida, eles fornecem cuidado, fidelidade, compreensão e isso bastaria para compensar. Como uma reflexão não vem do nada, mas de um emaranhado de referências que se conectam, vou deixar uma lista de links externos sobre o tema:
Newsletter Arromanticidade A trama do amor: os clássicos, os contemporâneos e como a gente continua obcecado por relacionamentos por Tobias Carvalho;
TikTok Mika.ayer Desejo feminino e a trend do hear me out
YouTube Matando Matheus a grito As mulheres apaixonadas pelo ChatGPT
YouTube Confissões de Gai O fim das comédias românticas (e o que isso diz sobre o amor)
YouTube Sabrina Carpenter Tears - Video Oficial





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4 comments
Oi Van, tudo bem?
ResponderExcluirSendo sincera, eu jamais leria, mas eu adoooro conteúdos que resumem (com spoiler) esses livros, porque dou MUITA risada.
Tem uma menina (Mialle acho) no Twitter que faz threads desses livros e eu perdi as contas de quantas vezes chorei de rir com ela KKKKKKKK
Beijos,
Priih
Infinitas Vidas
Oi Priih! Tenho umas amigas que lêem esses livros e me passam os spoilers, eu também morro de rir e fico chocada com a criatividade. Eu jamais conseguiria criar uma história tão inusitada kkkkkk
ExcluirOi Vaneza! Eu não tinha visto esse tipo de história ainda e sinceramente não me vejo gostando de um romance desse tipo. Respeito que gosta, gosto é algo pessoal. Lendo seus comentários, não consegui não rir, imaginando a mulher e o miojo interagindo. Não sei se é criatividade sem limites ou um absurdo total.
ResponderExcluirBjos!!
Moonlight Books
@moonlightbooks
Oi Cida! Foi uma experiência ler esse livro mas não me vejo enveredando por esse gênero literário kkkkkk Confesso que senti mais vergonha do que ri enquanto lia
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